Inteligência Artificial, o Futuro é Agora.
O assunto mais instigante do momento trata-se da Inteligência Artificial (AI), em especial, sobre o que esperar do uso massivo dela.
O ponto principal para entender o que o futuro reserva, obviamente, um entendimento limitado, afinal, o ser humano é incapaz de obter poder preditivo tão extraordinário quanto o da IA, é ter consciência de que a IA pretende tornar as máquinas e sistemas tão inteligentes ou até mais inteligentes que os seres humanos, ou seja, chegar o mais próximo possível de comportamentos e habilidades semelhantes aos humanos.
A verdade é que este poder de transformar máquinas em quase seres humanos já é uma realidade, na medida em que há várias soluções que os superam em muitas áreas. Isto não é de hoje. É uma evolução constante e cada vez mais intensa, rápida e, por que não dizer, preocupante.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) entende que a IA possui o potencial de melhorar o bem-estar, contribuir para uma atividade econômica global sustentável positiva, aumentar a inovação e a produtividade e auxiliar nos atuais desafios globais.
De fato, a IA é capaz de oferecer uma multiplicidade de benefícios econômicos, sociais e ambientais e conferir vantagens competitivas aos países e suas organizações nos mais diversos setores, tais como: saúde, agricultura, educação, transporte e logística, segurança, eficiência energética e muitos outros.
Que fantástico seria, por exemplo, a possibilidade de erradicar doenças. Uma aplicação já consegue prever um tipo de câncer cinco anos antes dele se desenvolver, avaliando o tecido, a partir do histórico de 60.000 mamografias.
Neste contexto real e fantástico, na china, uma robô foi designada como CEO. Acredita-se que ela pode ser útil na gestão corporativa, como ferramenta analítica de tomada de decisão e gerenciamento de riscos. Imagine você, como Diretor de Compliance, em uma reunião com alguém que consegue analisar milhares de contextos, dados de anos, mais de 60.000 documentos, por minuto, e tomar decisão instantânea com base em tudo isso. O que você irá apresentar nos seus relatórios de compliance e riscos que a CEO robô já não saiba?
O relatório Future of Jobs Rort (2020) do Fórum Econômico Mundial constatou que a automação “transformará tarefas, empregos e habilidades até 2025” e afirma que 97 milhões de novos empregos podem surgir “mais adaptados à nova divisão de trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos”.
Por óbvio que sistemas tão inteligentes, muito acima da inteligência humana, ocuparão muitos postos de trabalho existentes atualmente. Não obstante, novos postos serão criados, resta saber se o ser humano estará preparado, capacitado para responder e ocupar tais postos.
Sob outra vertente, é preciso ter alguns cuidados, pois a IA pode causar o mal, em muitos casos. Pessoas podem ser usadas e ter falas totalmente alteradas ou mesmo construídas de forma a incriminar alguém, por exemplo, são as deep fakes que já rondam pelas redes sociais.
Preocupante também o que está em construção na china. Há um sistema que permite o cultivo de fetos em laboratório, com possibilidades de alterar e criar modelos diversos de humanos, mais bonitos, inteligentes, o que for do seu agrado. Quais as implicações éticas disso? O que seremos no futuro? Seremos um padrão? Teremos somente pessoas com determinadas características estéticas e inteligentíssimas? Como fica o aspecto da discriminação? E os países que não conseguirem ter acesso a esta tecnologia?
Por falar em desigualdades e discriminação, muitos dos nossos dados já são coletados e, a depender da programação, podem ser usados de modo discriminatório, a exemplo do famoso caso da Amazom que teve uma IA programada para seleção de determinados perfis para cargos que reproduziram as mesmas escolhas de 10 anos anteriores e, com isso, a IA aprendeu a selecionar apenas homens, seguindo o padrão anterior, classificando-os como melhores, preterindo mulheres para tais cargos.
Neste contexto, será por acaso a famosa carta de alerta do Elon Musk e mais 2.600 líderes e pesquisadores do setor de tecnologia que afirma que a IA representa “riscos profundos para a sociedade e a humanidade”?
À partir destas reflexões, em um cenário organizacional, à luz da governança, compliance e gestão de riscos, com o avanço da IA, é fundamental que as organizações estejam atentas à adequação de seus processos e sistemas às inovações da IA que possam impactar de forma negativa seus, clientes, funcionários e toda a sociedade.
Para fins de compliance, a IA está no radar, na medida em que é preciso uma avaliação de conformidade e integridade tanto para adquirir novos sistemas quanto para comercialização de aplicativos de IA. Eles não devem ser apenas eficazes, produtivos e gerar vantagem competitiva, mas, também, ser seguros quanto aos aspectos de privacidade e proteção de dados, ausência de programações discriminatórias, cumprir os direitos fundamentais.
Além disso, é preciso avaliar os riscos de cada aplicação de IA no âmbito das operações da organização. Há oportunidades e também impactos negativos? O que pesará na decisão? Aqui, inclui-se a ética na avaliação das ambições pretendidas.
Nesse sentido, encontram-se em estudos, em diversos países, regulações sobre o assunto que dispõem da necessidade de observar diretrizes dos direitos humanos, éticas e transparentes, além de um programa de gerenciamento de risco abrangente, integrado às operações de negócios.
No Brasil não é diferente. O Projeto de Lei em tramitação no Congresso prevê que o uso da inteligência artificial tem entre os fundamentos o respeito aos direitos humanos e valores democráticos, a igualdade, a não discriminação, a pluralidade, os direitos trabalhistas, a privacidade e a proteção de dados.
Um ponto que chama atenção neste projeto é a preocupação com a substituição dos postos de trabalho onde espera-se a “capacitação humana e sua preparação para a reestruturação do mercado de trabalho, à medida que a inteligência artificial é implantada”.
Além disso, prevê que deve-se implantar um sistema de inteligência artificial somente “após avaliação adequada de seus objetivos, benefícios e riscos relacionados e, caso seja o responsável pelo estabelecimento do sistema, encerrar o sistema se o seu controle humano não for mais possível”.
Independentemente de qualquer regulação existente, a IA é uma realidade e exige responsabilidade para conduzir seus resultados fantásticos de forma ética e não esperar que a legislação diga explicitamente como agir. Isto garantirá integridade às organizações que ao invés de planejar cruzar a linha da conformidade, deverão mudar seu comportamento para além dela.